Quem foi Guerreiro Ramos

Alberto Guerreiro Ramos (1915–1982) foi um destacado sociólogo e teórico social brasileiro, reconhecido por suas significativas contribuições ao pensamento social e político do país. Seu trabalho abrange temas como desenvolvimento, modernização, teoria do capital humano e críticas ao eurocentrismo na sociologia. Considerado um dos pioneiros da sociologia crítica no Brasil, Guerreiro Ramos foi fundamental nos debates sobre racismo, desigualdade social e o papel do Estado no desenvolvimento econômico e social.

Guerreiro Ramos teve uma carreira diversificada que incluiu o serviço público, a academia e a política. Ele foi deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e teve um papel ativo na elaboração de políticas públicas durante o governo de Getúlio Vargas. No campo acadêmico, ele lecionou em várias universidades no Brasil e nos Estados Unidos, incluindo a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade do Sul da Califórnia (USC).

Foi uma figura de grande destaque nas ciências sociais no Brasil, sendo um dos principais responsáveis pelo progresso da disciplina no país. Atuou como diretor do Departamento de Sociologia do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) e foi membro da delegação brasileira junto à ONU. É autor de dez livros e inúmeros artigos, muitos dos quais foram traduzidos para inglês, francês, espanhol e japonês. Como jornalista, colaborou com veículos como O Imparcial (Bahia), O Diário (Belo Horizonte) e, no Rio de Janeiro, Última Hora, O Jornal e Diário de Notícias.

Em suas reflexões, ele destacou a diferença entre o “negro-tema” e o “negro-vida”. Segundo ele, enquanto o negro tem sido explorado como tema por literatos e cientistas sociais, a realidade da vida do negro envolve sua luta por autodeterminação, moldada pelas condições específicas da sociedade brasileira. Guerreiro Ramos criticava a abordagem sociológica que apenas descrevia a cultura negra sem contribuir para a superação da marginalização da população negra no Brasil. Ele argumentava que esses estudos viam os negros como um espetáculo, sem realmente impactar suas vidas:

Há o tema do negro e há a vida do negro. Como tema, o negro tem sido, entre nós, objeto de escalpelação perpetrada por literatos e pelos chamados “antropólogos” e “sociólogos”. Como vida ou realidade efetiva, o negro vem assumindo o seu destino, vem se fazendo a si próprio, segundo lhe têm permitido as condições particulares da sociedade brasileira. Mas uma coisa é o negro-tema; outra, o negro-vida.

O negro-tema é uma coisa examinada, olhada, vista, ora como ser mumificado, ora como ser curioso, ou de qualquer modo como um risco, um traço da realidade nacional que chama a atenção.

 O negro-vida é, entretanto, algo que não se deixa imobilizar; é despistador, profético, multiforme, do qual, na verdade, não se pode dar versão definitiva, pois é hoje o que não era ontem e será amanhã o que não é hoje (Guerreiro Ramos, 1955, p. 215).

No Teatro Experimental do Negro (TEN), de Abdias Nascimento, ele criou, em 1949, o Instituto Nacional do Negro e iniciou o Seminário de Grupoterapia. A partir de pesquisas que apontavam o ressentimento como uma das principais matrizes psicológicas do homem negro brasileiro, ele propôs a grupoterapia como um espaço de catarse e reflexão sobre as sequelas deixadas pela escravidão e pela vivência de uma identidade fragmentada e de ausência de lugar.

Guerreiro Ramos renovou os estudos sociológicos no Brasil, conferindo-lhes maior autonomia e destaque internacional. Ele afirmava que “o Brasil estava desenvolvendo uma teoria sociológica geral mais penetrante e avançada do que a norte-americana, capaz de envolver e explicar até mesmo a sociologia produzida nos Estados Unidos” (GUERREIRO RAMOS, 1965, p. 135).

Guerreiro Ramos deixou o Brasil em 1966, após ter seu mandato de deputado cassado durante a ditadura civil-militar. Ele se radicou nos Estados Unidos, onde passou a lecionar na Universidade do Sul da Califórnia. Casou-se com Clélia Guerreiro Ramos, com quem teve dois filhos. Faleceu em Los Angeles, Califórnia, em 6 de abril de 1982, aos 67 anos, vítima de câncer.

A importância de Alberto Guerreiro Ramos para o Núcleo de Estudos Guerreiro Ramos (NEGRA) é imensurável. Sua obra e legado orienta as pesquisas e discussões do núcleo, que busca aprofundar o entendimento das complexas relações sociais, políticas e econômicas no Brasil e no mundo. Ao criticar o eurocentrismo e promover uma sociologia crítica e autônoma, Guerreiro Ramos não apenas desafiou os paradigmas estabelecidos, mas também abriu caminhos para novas abordagens que consideram as realidades e especificidades das sociedades periféricas.

O Núcleo de Estudos Guerreiro Ramos (NEGRA) se dedica a perpetuar essa visão crítica e transformadora, explorando as dimensões da desigualdade e do desenvolvimento de forma a contribuir para um mundo mais justo e equitativo. Ao honrar o legado de Guerreiro Ramos, o núcleo se compromete a continuar seu trabalho inacabado, oferecendo novas perspectivas para os desafios contemporâneos.

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